sexta-feira, 13 de junho de 2008

Confissões e declarações de Lúcio

Lúcio havia cumprido dez anos de prisão por um crime que não cometeu e do qual nunca conseguiu se defender. Sentia-se morto para a vida e para os sonhos. A única coisa que lhe restara era somente a vontade de comprovar sua inocência.
Para ele pouco importa se acreditam ou não. Seu único interesse é desabafar. E gritar: não foi o responsável pelo assassinato de Ricardo de Loureiro, mesmo parecendo dificil no momento. Lucio não tem família e não necessita ser reabilitado pelos dez anos que esteve preso.
Aqueles que lerem o depoimento exposto no processo e depois perguntarem a Lúcio porque ele não alegou inocencia no tribunal enquanto era tempo ou por que não fez sua defesa perante o juiz, ele sempre responderá que naquele momento era quase impossível que alguém acreditasse nele. Além do mais achava que se decidisse passar por um embusteiro ou doido também seria inútil. Ademais, uma confissão feita após os acontecimentos em que se vira envolvido na época, o deixaria despedaçado. Para compensar isso, na prisão ele se afigurava uma coisa sorridente Era a forma de ter um pouco de tranqüilidade e sono. Um fim como qualquer outro e um termo para sua vida devastada.
Toda a ânsia de Lúcio se foi depois de ver o processo terminado e começar a sentença.O resto foi rápido, fazendo o caso parecer bem claro. Lúcio nem negava ou confessava. Das duas, uma. Quem cala conssente.Disso ele já sabia. Mas todas as simpatias estavam do lado dele. O crime foi considerado passional, como diziam todos os jornais da época. Depois, a vítima era um poeta. A mulher romantizara-se desaparecendo. Lúcio era um herói no final das contas e com seus laivos de mistério, o que mais o aureolava. Por tudo isso independentemente do belo discurso o júri concedeu-lhe circunstâncias atenuantes. A pena aplicada para ele foi considerada curta, os dez anos na prisão pareceram mais como dez meses. Na realidade as horas não podem mais ter ação sobre aqueles que viveram um instante que focou toda a vida, atingindo o sofrimento máximo. Nada já os faziam sofrer. Vibrada as sensações extremas, nada os fará oscilar. Simplesmente, nesses momentos culminantes, raros são os indivíduos que o vivem, ou os que viveram ou não, como no caso Lúcio, os chamados mortos-vivos ou apenas os desencantados, na maioria das vezes acabam se suicidando.
Contudo, Lúcio ignora se é felicidade maior não existir tamanho instante, mas os que não vivem tem paz, deixando duvidas sobre ser verdade ou não.Mas a verdade para ele é que todos esperam esse momento luminoso, logo todos são infelizes. O motivo pelo que apesar de tudo Lúcio se orgulha de ter vivido. Ele não está escrevendo uma novela, deseja apenas fazer uma exposição clara de fatos, para que todos entendam, ele sente-se como se estivesse sendo lançado em um mau caminho. Aliás por mais lúcido que o pobre acusado queira ser, é de sua certeza absoluta de que a sua palavra é tida como a mais incoerente e perturbadora e menos lúcida que existe.
Lúcio garante que não deixará escapar um pormenor, por mínimo que seja ou aparentemente sem característica. Em casos como o que ele tenta explanar, a luz só pode nascer de uma grande soma de fatos, apenas aqueles que serão relatados pelo próprio Lúcio. Desses fatos, quem quiser, que tirem suas próprias conclusões, pois para ele, nunca foram experimentados. E mais uma vez a vitima da acusação falsa declara sob sua palavra de honra, afirmando que só diz a verdade, mesmo não se importando se acreditem por mais que seja inverossímil, a confissão de inocência dele é apenas um mero documento.

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